O período mais repressivo da ditadura militar foi, também, o de maior desenvolvimento econômico para o Brasil. 1968 foi a fase mais violenta e conturbada que o país viu até o momento na história de sua política.
Batizado como Anos de Chumbo pelos membros da imprensa, este período vai do final de 1968 até março de 1974. Avanços industriais e, conseqüentemente, econômicos foram notórios. Mas isso não quer dizer que a sociedade inteira tenha se beneficiado desse crescimento todo. As inflações foram às alturas, as desigualdades sociais ficaram mais claras e a repressão política era cada vez maior.
O cenário internacional disso era a Guerra Fria, um dos episódios marcantes na duradoura disputa entre capitalistas e socialistas. A extrema-esquerda batia de frente com o aparelho policial e militar (direita) que estava a serviço do Estado.
E é nesse momento que a liberdade de imprensa some. Ou pelo menos ganha limites. Márcio Moreira Alves, deputado, é acusado de ofender as Forças Armadas do governo Costa e Silva. Ele fez um discurso incentivando a população a não participar do desfile de 7 de setembro como uma forma de protesto contra a ditadura.
Indignados com o que acabara de acontecer, Costa e Silva juntamente com os militares, pedem ao Congresso Nacional que processe Márcio Moreira Alves. O pedido é negado. O jornalista do Estado, Julio de Mesquita Filho, publica um texto indignado sobre a falta de visão para governar o país de que dispunha o então presidente Costa e Silva. Esse texto foi tirado de circulação pelo general Silvio Corrêa de Andrade, Chefe do Departamento da Polícia Federal em São Paulo. Corrêa confiscou o exemplar que ainda estava na impressora e apreendeu o acumulado de jornais já prontos para despache e venda.
Corrêa ainda tentou negociar com Mesquita Filho, mas não teve conversa. O jornalista se negava a mudar suas publicações para que o governo saísse ileso de ofensas e críticas. Isso aconteceu nos instantes que antecederam a assinatura do AI-5. Depois de assinado o Ato Inconstitucional n° 5, Mesquita Filho ainda participou de uma reunião no Palácio dos Bandeirantes com o governador Abreu Sodré e o general Andrade. Ele poderia continuar publicando seus jornais, mas deveria ser mais cauteloso.
Mesquita Filho não escreve editorias até o final de sua vida, que seria em 1969. Com sua morte Julio de Mesquita Neto, seu filho, assume seu lugar na direção do jornal. A ditadura e a censura persistem. Mesquita Neto explica durante um debate em 1970 que a página reservada para comentários políticos, deixou de ser utilizada. De acordo com o então diretor, não havia liberdade suficiente para exporem seus pensamentos e por esse motivo não utilizavam aquele espaço como deveriam.
Esses espaços eram usados com outras publicações. Reportagens banais ou até mesmo poemas e receitas. Alguns jornalistas se recusavam a ocupar seus espaços com matérias sem importância.
O período mais repressivo tenha sido, talvez, entre os anos de 1968 e 1975, quando censores foram implantados com maior ou menor rigorosidade. Tudo dependia das ordens governamentais. E no ano de 1972, o regime passava por uma instabilidade por conta da sucessão de Médici. Isso aumentou ainda mais a repressão.
Com o passar dos anos os jornalistas foram tendo seu espaço de volta. Mas isso não quer dizer, contudo, que eles possam escrever tudo aquilo que julgam certo e conveniente. Anos depois passou a existir a Lei de Imprensa. Esta processava jornalista por calúnia e difamação.
Na verdade a intensidade das penas é que mudou, não os motivos. Sendo assim o jornalista ainda fica delimitado à certas publicações. Do contrário, há complicações que podem levar a um prejuízo grande.
A imprensa existe há 200 anos. A repressão também. Começou com a proibição real para que impressoras fossem postas em funcionamento no país. Na verdade a censura existe para defender interesses particulares ou oligárquicos. A diferença está na punição que cada época aplicou em seus membros da imprensa.